Como anunciámos no post anterior, fomos fazer uma visita ao lar Paula Borba para realizar um inquérito sobre a solidão na terceira idade e como a experiência ultrapassou as nossas expectativas em larga escala, decidimos partilhá-la convosco, através do relatório que vos vamos fornecer de seguida e que tentaremos colocar no jornal da escola. Esperemos que gostem.
Relatório dos Inquéritos realizados no Lar Paula Borba
Como parte integrante do nosso trabalho, efectuámos uma visita ao lar Paula Borba, com o intuito de realizar entrevistas aos idosos lá residentes. Antes de passarmos directamente para os resultados destas, vamos tecer algumas palavras sobre a realidade do lar, aos nossos olhos.
Quando chegámos à instituição deparámo-nos com um edifício antigo que, no entanto, reunia todas as condições necessárias ao acolhimento dos idosos. Um grande pátio proporciona momentos de lazer e de ar puro, quando as condições climatéricas o permitem. Aquando da entrada, demos com um átrio principal, o núcleo do lar, a sala de estar. Lá estariam cerca de 50 idosos, estando alguns a dormir, outros a ver televisão, a fazer renda, a jogar dominó, a comer ou simplesmente a conversar. Atravessámos a sala de jantar, bem apetrechada, com algumas dezenas de mesas, e um corredor lateral que dava acesso ao gabinete da directora da instituição, a Dr.ª Cândida. Apresentámos a nossa proposta de trabalho e a nossa tarefa do dia, entrevistar alguns idosos de modo a compreendermos melhor a população residente e as suas necessidades, ambas recebidas com muito agrado. De imediato acedeu ao nosso pedido, organizando na sala de estar uma zona de entrevistas e pedindo a colaboração de alguns idosos.
O primeiro entrevistado foi a Dona Teresa , uma simpática algarvia de 74 anos, que nos pôs a par do seu difícil passado. Há cerca de quatro anos, por maus tratos e perda de casa e de bens, viu-se obrigada a mover-se para o lar. Tirando os outros idosos do lar, está sozinha no mundo, mas apesar disto nunca se sente só, porque tem uma grande amiga e os seus amigos empregados. A sua rotina diária passa por ir á praça, ao mercado e ainda beber o seu “cafezinho” com a tal amiga de sempre. Fez-nos ainda saber que gostaria de ter uma máquina de café e também de ir almoçar fora.
De seguida, entrevistámos António Gonçalves da Silva de 79 anos, que lá estava havia já dez, o famoso protagonista da história do leão que comeu o braço de um homem num circo há muitos anos em Setúbal. O senhor António, bem mais calmo que a anterior entrevistada, está no lar por necessidade e recebe visitas regulares da irmã. Gosta dos bons prazeres da vida, como comer, beber e passear. No entanto, por vezes, sente-se sozinho porque, veja-se, há quem não goste dele! É incrível e lamentável como as pessoas, nesta idade, de repouso e de lazer, ainda se preocupam com estas trivialidades.
Entretanto foi a vez do senhor Luís Cruz, de 71 anos, estando no lar há dois, por necessidade de cuidados físicos. Costuma receber visitas regulares da filha, jogar dominó, dar umas voltas pela cidade e ao fim de semana vai ver os jogos do Vitória FC. Apesar das visitas da filha e dos amigos do lar, o Sr. Luís sente-se, por vezes, só, pois sente a falta da verdadeira família.
O quarto entrevistado foi então o senhor Garcia, de 79 anos, utente há dois, por necessidade de cuidados e abandono familiar. Apesar disto, não perde a boa disposição ao brincar com as funcionárias, que considera grandes amigas e que são “a melhor coisa do lar” e conta-nos ainda que gosta muito de ver televisão e sair. Queixa-se da falta de um dominó e de um baralho de cartas melhor. Por fim, acabou por nos dizer que se sente só, pois os familiares estão longe e os “outros utentes não acompanham a minha inteligência”.
O último entrevistado foi José Guerreiro, de 75 anos, no lar desde os 70, também por necessidade de cuidados e abandono familiar, que não costuma receber visitas regulares. No seu dia-a-dia costuma passear pelo jardim e ir á baixa. Agrada-lhe o bom atendimento e serviço prestado, mas, no entanto, gostaria de ter um rádio para lhe fazer companhia, pois, por vezes, se sente só.
O tempo passou a correr, e, apesar de não termos tido tempo para entrevistar mais utentes, foi-nos possível conversar com mais alguns. A maioria destes tinha entre 70-80 anos, alguns bem lúcidos, outros nem tanto, mas ficámos com a ideia que, no geral, estavam bem, dentro das limitações próprias da idade.
Apesar de termos entrado com algum receio do que iríamos ver e viver, como pensamos ser normal em jovens que nunca entraram num lar, foi uma tarde muito bem passada, em que nos divertimos muito com as histórias contadas e a boa disposição para nós contagiada por eles. Mais do que isso, aprendemos imenso com todas as experiências que nos foram contadas.
Desafiamos, aliás, os nossos colegas da escola a visitar este, ou outro, lar, pois é uma óptima experiência de vida.
quarta-feira, 17 de março de 2010
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